Crowdfunding hoje é um caminho real para a produção de filmes no mundo. Já é realidade. É uma ferramenta muito útil principalmente àqueles que estão começando. Mas tem gente que quer saber um pouco mais sobre o caminho para ter roteiros produzidos em Hollywood.
Bom… Não se trata de um caminho dos mais fáceis. É um circuito fechado, que depende de muito mais que talento. É preciso de um pouco de determinação, paciência, contatos, algum dinheiro e, inevitavelmente, sorte. Vender roteiros sendo um escritor desconhecido é uma dificuldade que os próprios roteiristas americanos enfrentam. Afinal de contas, não é todo dia que a história de “Gênio Indomável” escrita por Matt Damon e Ben Affleck se repete.
Irei falar aqui sobre possíveis caminhos que nós brasileiros podemos seguir. Não me arrisco a dizer que são os “caminhos do sucesso” como muita gente gosta de dizer, pois o sucesso vai depender, como disse anteriormente, de vários fatores. Mas são steps que podem te levar a conseguir chegar lá.
Vou considerar, antes de mais nada que você tem algum talento e tem algum conhecimento sobre a arte de escrever roteiros. Se não é o caso e você não faz ideia de como escrever um roteiro, recomendo que faça cursos livres na área (temos boas opções no Brasil), leia livros sobre o tema e roteiros de filmes já produzidos (tem vários no site www.roteirodecinema.com.br).
Leandro Saraiva e Newton Cannito disponibilizaram recentemente uma versão em pdf gratuita do livro “Manuel O primo pobre dos manuais de cinema e Tv”. Vamos dizer então que você tem um roteiro escrito, reescrito algumas vezes, revisado e formatado, que acredita que tenha um bom potencial para ser produzido em Hollywood. Ótimo!
Vejamos o passo-a-passo:
1) A primeira coisa a ser feita é registrar o seu roteiro. No Brasil, isso é feito através do Escritório de Direitos Autorais da Biblioteca Nacional (Rua da Imprensa, 16 – 12º andar - Castelo – Rio de Janeiro/RJ).
2) O seu roteiro deve estar na formatação adotada pelos estúdios americanos e, obviamente, escrito em inglês. Se tem dúvidas quanto à formatação, o livro Como Formatar o Seu Roteiro, da Editora Aeroplano, de Hugo Moss será muito útil. Moss, que é inglês, mas vive no Brasil há vários anos também traduz roteiros do português para o inglês, fazendo as adaptações necessárias.
Ele também dá aulas e faz consultorias nesta área de roteiros. Vale a pena entrar no site dele e conhecer um pouco melhor o seu trabalho. É bom reforçar que, mesmo que você fale inglês com bastante fluência, é importante buscar o serviço de script doctoring. Inclusive, até mesmo os americanos correm este risco e mandam seus roteiros para a análise desse tipo de especialistas, no intuito de acertar ao máximo seus trabalhos.
3) Registre também seu seu roteiro no Writer’s Guild of America (West na Califórnia ou East em Nova Iorque). A taxa cobrada é de 20 dólares para não membros e o registro vale para 5 anos. Depois de 5 anos é preciso pagar novamente a taxa, caso você queira renová-lo. Veja mais informações no site do WGA – West.
4) Nos EUA, os roteiristas costumam vender seus roteiros através de agentes. Participar de concursos é uma boa porta de entrada para a indústria. Os vencedores podem conseguir vender seus roteiros ou arranjar um bom agente. Abaixo, seguem alguns sites (em inglês) com listas dos melhores concursos de roteiro dos EUA:
The Five Best Screenplay Competitions
Best Screenplay Contests to Enter
Top 8 Screenplay Contests of 2009 and the Scams
Muitos concursos limitam a sua participação somente a americanos, portanto dê uma olhada nos requisitos e tente participar de concursos internacionais. A grande maioria restringe que os candidatos sejam amadores, ou seja, não tenham nenhum roteiro de longa metragem produzido pela indústria.
5) Caso você seja um roteirista profissional e/ou não tenha interesse em participar desse tipo de concurso, o William C. Martell tem uma dica valiosa e muito interessante para vender roteiros. Trata-se de seguir o seguinte processo:
”Faça uma lista dos filmes que você tenha gostado e que tenham o mesmo gênero, tema e estilo do seu roteiro. Descubra quem foram os produtores destes longa metragens”. Você pode dar uma olhada no verso da caixa do DVD ou buscar no site IMDB.
6) “Procure os endereços de contatos desses profissionais no livro Hollywood Creative Directory, que é atualizado anualmente”. Você pode comprá-lo pela Amazon.
7) ”Envie uma cópia de seu roteiro para cada produtor, junto com uma carta de apresentação (em inglês, claro). Não esqueça de colocar o seu e-mail de contato (e seu número de telefone, se conseguir conversar fluentemente em inglês)”.
Uma questão importante é ter os pés no chão neste momento. Não envie seu roteiro para grandes produtores ou donos de grandes estúdios, a não ser que você tenha uma excelente referência ou indicação. Estes produtores recebem tantos roteiros, que a grande maioria nunca vai ser lida, vai para a pilha de roteiros ou imediatamente para o lixo. É uma triste realidade, mas enfim, existem os produtores desconhecidos que sempre estão à procura de boas histórias para filmar ou investir dinheiro.
Com eles, suas chances são bem maiores. Se eles já produziram algo na mesma linha da sua história então, suas chances podem ser ainda maiores. Claro que vai depender um pouco de sorte, do que eles estão interessados em filmar no momento, da identificação deles com seu trabalho, de estarem de bom humor no dia que lerem a sinopse etc.
Você vai ter uma despesa razoável com as postagens, ainda mais se você estiver enviando seu roteiro do Brasil, então não adianta mandar para todos os produtores de uma vez só (além do mais, você ficaria louco esperando uma resposta). O interessante é você ir enviando aos poucos. O mais difícil nesse método é a disciplina. É preciso de comprometimento a enviar, por exemplo, um roteiro por semana ou dois roteiros por mês. Assim, se você receber uma resposta antes, ótimo. Se não, continue mandando com calma. Desta forma, você divide em parcelas seus gastos com os Correios e as suas expectativas.
Acho que eu não preciso dizer que nesse tempo de espera é imprescindível que você continue escrevendo, certo? Continue tendo ideias, anotando story lines, trabalhando em novos argumentos ou um novo roteiro. E por mais que você seja apaixonado pelo seu roteiro, uma coisa essencial nesse meio é não se apegar demais ao seu trabalho. Mesmo que você tenha escrito algo fantástico, com certeza, sua obra irá passar por inúmeras alterações durante o processo. Se você receber alguma oferta para vender o primeiro trabalho, excelente, comemore! Se não, não desista, continue tentando. Repita todos os passos anteriores com os novos roteiros. Não! Definitivamente, não é fácil, mas isso eu já tinha avisado lá no começo, certo? E é isso! Boa sorte! Se você conseguir, apareça para compartilhar a boa notícia.
*Publicado originalmente no Blog Cineasta
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