sexta-feira, 15 de abril de 2011

O Despertar

Quando acordei percebi que não estava sonhando. Eu estava mesmo dentro daquele trem.
Olhei para o lado e não encontrei Sodalita.
- Será que ela era fruto da minha imaginação? - Perguntei. Mas logo vi que não. Ela estava voltando do toilete.
- Bom dia Davi. Como dormiu? Sente-se melhor?
- Sim. Mas estou um pouco confuso. - Respondi.
- Confusão é algo que precisamos controlar, pois quando ela interfere em nossas decisões ficamos... Sempre confusos!
Dizendo estas palavras Sodalita terminou sua frase aos risos. Seu senso de humor é muito peculiar. Mas ela conseguiu causar em minha cabeça um enorme furacão com apenas algumas palavras que disse.
Pedi licença a ela e me dirigi para uma janela aberta que ficava nos fundos do vagão. Quando apoiei meu braço sobre a janela o trem adentrou em um enorme túnel escuro e frio com goteiras que caiam sobre meus braços.
Comecei a ter uma enorme vontade de chorar, de me esvaziar dos meus medos. Foi exatamente o que fiz.
- Vou assumir apartir de agora todas as atitudes que tomar para minha vida. Não vou deixar ninguém mais me controlar e se alguém quiser ficar comigo vai ser do jeito que eu sou. Não haviam mais as lágrimas. Me senti forte naquele momento e uma nova pessoa parecia surgir dentro de mim.
Queria descer do trem, pois havia conseguido o que queria. Estava forte novamente para enfrentar o mundo e ser feliz. Corri para meu assento e perguntei para Sodalita como parava o trem. Quando seria a próxima parada, pois eu estava ótimo e suas palavras me abriram a cabeça. Meu rosto estampava um enorme sorriso quando Sodalita me questionou:
- O que está fazendo Davi? Acretida mesmo que tenha conseguido resolver todos os seus problemas?
- Sodalita estou me sentindo forte, corajoso e pronto para tomar todas as decisões de minha vida.
- O seu problema é que você não entendeu nada do que eu lhe disse Davi. Acalme-se e sente aqui do meu lado. Há quanto tempo estamos neste túnel? Acha mesmo que em três minutos você conseguiu resolver todos os problemas de sua vida? Você tem apenas vinte e três anos de idade!

Uma luz começou a brilhar no início do túnel e em poucos segundos a claridade deixava toda aquela escuridão para trás. Naquele momento percebi que se eu quisesse sair daquele trem resgatado eu teria que passar bem mais que três minutos dentro de um túnel.

Comecei a controlar minha ansiedade, planejar um dia por vez passou a ser meu primeiro exercício. Todas as tardes sentava com Sodalita a beira da janela dos fundos e observávamos o pôr do sol. Em meio as montanhas verdes e os lagos azuis os raios solares se despediam de mais um dia tranquilo.
Já haviam passado oito dias que viajava naquele trem e tudo estava do mesmo jeito até aquele homem da capa preta aparecer com seu chapéu fazendo sombra em seu rosto.
- Venho me apresentar a vocês. Meu nome é Emanuel e eu sou o maquinista deste trem. Cada um de vocês terá o momento certo de descer e venho informar que o primeiro desembarque se aproxima.
Meu coração esfriou naquele momento. Não sei dizer ao certo se foi por ter ouvido a voz de Emanuel, grave e amedrontadora, ou se foi por saber que a qualquer momento o trem iria parar e eu poderia descer dele.

Já me sentia melhor. Estava mais confiante e menos ansioso. Mas ainda não era o suficiente, queria aprender mais. Queria me tornar uma pessoa melhor.
- É chegada a hora Davi. Meu papel em sua vida se cumpre aqui. Devo descer nesta próxima parada.
- O que está dizendo Sodalita? Você não pode ir agora! Como vou ficar aqui neste trem sozinho?
- Você não está sozinho Davi. Olhe a sua volta, veja quantas pessoas ainda tem neste trem.
O barulho dos freios das rodas arranhavam meu peito e diziam que era hora da despedida.
Enquanto o trem parava eu me lembrava rapidamente dos conselhos, das conversas, dos momentos em que Sodalita me fazia refletir sobre minha vida e me lembrei que era hora de mostrá-la que aprendi a ter coragem. Imediatamente o momento deixou de ser uma despedida e passou a ser um momento de gratidão.
- Obrigado por ter deixado um pouco de você aqui comigo, Sodalita.
E para que eu não me esquecesse dela, ela segurou em minhas mãos e colocou uma pedra de cor azul royal com veios brancos, me dizendo que aquela pedra representava todas as coisas que ela me disse naqueles oito dias de convivência.

O trem parou e Sodalita foi a única pessoa que vi partir naquela estação.

Emanuel veio em minha direção e sem pronunciar nenhuma palavra abriu a porta que estava trancada e dava acesso ao segundo vagão do trem.

Um comentário:

  1. Nossa Davi, você escreve muito bem. Suponho que você esteja falando neste texto algo que aconteceu com você. Adorei o modo de como você descreve as coisas a sua volta, o que você realmente sente. Ainda vou estar lendo o seu livro, pois ele me desperta muita curiosidade em saber o que se passou com você, sei algumas coisas e pelo que vejo sua vida foi luta. São pessoas como você que eu me inspiro. Bom, eu tenho um sonho de escrever um livro que fale sobre minha vida, escrevo nele direto, mas não acabei ele por que procuro esta escrevendo ele com palavras fortes e claras que toque o coração das pessoas e mecha com a imaginação delas, e o bacana que foi isso que vi nas suas palavras. Parabéns cara você e uma inspiração, para todos que ler. Um abraço fica com Deus.

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