Aqui, neste exato momento, com as mãos suando e os nervos a flor da pele, vou começar uma nova história.
Todos me perguntam: E depois? Pois vou dizer o que aconteceu depois.
A necessidade de me encontrar, de saber quem era o Davi que existia dentro de mim, se tornou tão grande que sentir a brisa batendo no rosto a beira de um oceano azul e turbulento já não era mais suficiente. Precisava de mais, muito mais.
Fui para uma festa, ouvi músicas e músicas, me espetei em todos os espinhos que esbarrei, chorei e dancei a noite inteira e acabei me esquecendo de descobrir mais sobre mim. Sujei minhas mãos e larguei meus sapatos pelo caminho. Adiante um velho espelho, já desbotado e com velhas manchas cinzentas que mais pareciam estar contaminando a imagem refletida, refletia uma imagem que eu já não reconhecia mais. Seria eu mesmo ou uma outra pessoa dentro de mim refletida num espelho velho?
As pessoas pareciam estar se divertindo. Eu estava me divertindo. Ou me perdendo?
O que mesmo eu estava procurando?
Achei um copo de gim com guaraná, tomei e em poucos segundos encontrei todos, menos a mim. Não estou conseguindo respirar! Deve ser o calor. Mas é inverno e está chovendo. Está tudo rodando.
Quero dar uma volta e respirar um pouco e tentar achar o Davi que deixei para trás.
As ruas estão molhadas e o asfalto escorregadio, aquela música não sai da minha cabeça, as lágrimas tomam meu rosto e uma voz dentro da minha cabeça não pára de me condenar e me perguntar: Quem é você? O que está fazendo?
Aquelas pessoas já ficaram para trás, estou sozinho agora.
E algo parece brilhar diante de meus olhos neste momento. É uma espécie de papel com letras brilhantes.
A dose de gim com guaraná não me permite conseguir ler o que está escrito. Forço meus olhos e consigo ler algo parecido como "Passagem Para Algum Lugar".
Tudo que eu precisava naquela hora era de me mandar para algum lugar onde não conhecesse ninguém, pois só assim eu poderia me conhecer.
Olhei ao meu redor e percebi que estava a um quarteirão de uma estação de trem, o dia estava clareando e conforme a luz do sol batia no bilhete que eu estava segurando ele brilhava ainda mais.
Foi quando li as seguintes palavras: Passagem de Ida Sem Volta Para Um lugar Chamado Resgate.
Quase não acreditei, era a chance que precisava para me conhecer. Os portões se abriram e algumas pessoas apressadas começaram a entrar nos vagões. Ao meu lado uma senhora com algumas bolsas nas mãos se preparava para entrar quando um homem trajando uma capa preta e um chapéu disse-lhe:
- Senhora não é permitido levar bagagens. Preciso que a senhora deixe tudo aqui e embarque somente com a roupa do corpo.
Ela ficou assustada, mas a vontade de embarcar naquele trem era tão grande que ela jogou suas bolsas ali mesmo e, após enxugar as lágrimas de seu rosto, segurou com as duas mãos firme nos ferros das laterais da porta do vagão e com impulso jogou seu corpo para dentro.
Demorei um pouco mais do lado de fora do trem, pois queria observar as pessoas que estavam embarcando naquela viagem que não teria volta. Eram pessoas muito parecidas comigo, quase todas com uma tristeza nos olhos e com a cabeça baixa.
O trem começou a andar lentamente e, percebendo que talvez eu não teria uma outra oportunidade, corri e entrei no primeiro vagão dos sete vagões que tinha o trem...
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