sexta-feira, 15 de abril de 2011

#2 - O Primeiro Vagão

Assim que entrei pude reparar que não se tratava de um trem comum. Não tinha acesso aos outros vagões, meu acesso estava restrito somente àquele espaço. Observando melhor, vi que tinha uma porta que dava acesso ao vagão seguinte, mas ela estava trancada. Quase imperceptível.

Não havia nenhuma marcação de assento no meu bilhete da passagem. Olhei para os lados e já haviam pessoas sentadas em quase todas as poltronas. Não queria dividir meu assento com mais nenhuma pessoa, mas na falta acabei dividindo com uma senhora idosa. Quando lhe pedi licença para me sentar, percebi que o lugar seria ideal pois ela parecia não gostar muito de conversar e tudo que eu queria naquele momento era ficar em silêncio.

Inclinei o assento e comecei a observar o teto do vagão. Tinham frases escritas que pareciam se movimentar conforme a luz do sol refletia nelas. Haviam também desenhos de rosas que hora ficavam vermelhas, hora amarelas, hora rosas. No corredor tinha um tapete que mais parecia com um gramado de campo de futebol, aparado e verdinho. Lembrei que eu estava descalço, que tinha largado meus sapatos para trás. Com jeitinho e discretamente estiquei minha perna esquerda e com a ponta do pé senti o quanto era macio o tapete do corredor. O assento era confortável, tinha espaço suficiente. Em cima da minha cabeça tinham uns botões de luz, de ar e uma pequena caixa de som que ficava tocando uma música bem baixinha. Do meu lado a senhora sentada não tirava os olhos das paisagens montanhosas que passavam pela janela.

- Como a senhora se chama? A senhora vai para onde? - Perguntei.

Ela permaneceu calada, como se eu não estivesse ali do seu lado.

Comecei a lembrar de como tudo aconteceu muito rápido na minha vida. Agora eu estava dentro de um trem e não tinha nenhuma noção de quando ele iria chegar ao meu destino, nem mesmo em que momento eu iria descer dele. Pensei nas pessoas e nas coisas que deixei para trás. Nas possibilidades. Meus sentimentos estavam confusos novamente, precisava me controlar.

- Sodalita!

- Como?

- Eu me chamo Sodalita. - Disse a senhora sentada ao meu lado.

- Você me parece bastante ansioso. Qual o seu nome rapaz?

- Davi.  E sim, eu estou bastante ansioso.

- Pois bem meu jovem, você precisará controlar sua ansiedade. Nossa viagem será longa e as coisas que lhe acontecerão aqui serão transformadoras.

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